
Teremos uma geração de mulheres que vestem a camisa do automobilismo?
A partir da temporada 2018 da Fórmula 1, a Tommy Hilfiger é quem assina os uniformes da Mercedes-AMG Petronas Motorsport, principal equipe de Fórmula 1 do mundo e que tem como estrela o piloto Lewis Hamilton. No final da semana de moda de Milão 2018, em fevereiro, a marca americana lançou a coleção verão 2018 inspirada nesse contexto de automobilismo. Jaquetas, calças, bodies, vestidos, saias, blusas, tops bolsas e mochilas foram apresentados numa mistura de corrida da categoria, feira do automóvel e evento de moda. É curioso pensar em que contexto e com quais propósitos a grife investe neste tipo de design.
Digo curioso porque tanto no mundo da costura, quanto no capitalismo não existe ponto sem nó. E eu não apostaria apenas no aproveitar do gancho que é patrocinar um time de automobilismo. Uma publicação do site Business Wire traz que o interesse da marca tem como foco a expansão nos principais mercados da Fórmula 1 para geração de “consumidores Tommy“. E espera-se que o logotipo da grife, que divide espaço com outros patrocinadores nos carros, seja vista por pelo menos 352 milhões de pessoas. Esse foi o número de telespectadores únicos que acompanharam a competição em 2017, segundo dados divulgados pela Liberty Media no início deste ano. A empresa adquiriu a Fórmula 1 em 2016.
Lembra da tal expansão nos principais mercados? O Brasil está entre os quatro países que mais consomem a categoria de automobilismo, divindo espaço com Alemanha, Itália e Reino Unido. Outro dado obtido com essa pesquisa mostra que Tommy Hilfiger pode ter feito uma ótima escolha ao patrocinar um time de corrida. O número de usuários das plataformas de mídia social na Fórmula 1 também cresceu em 2017, alcançando 11,9 milhões de seguidores no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
Take a look on set at our Spring 2018 campaign shoot, as @GiGiHadid walks the track 👀 Scope her #TommyXGigi look: https://t.co/DO0hHLlpZy pic.twitter.com/g17iJzhEuG
— Tommy Hilfiger (@TommyHilfiger) March 8, 2018
A Fórmula 1 foi a marca que mais cresceu em 2017 nas plataformas digitais, à frente até de tradicionais como Adidas, Nike e Puma. E o interesse da Tommy é exatamente o mercado digital. O estilista já deu provas de que está atento ao movimento desse meio, quando, por exemplo, foi um dos primeiros a investir no #seenowbuynow. A tendência de consumo surgiu nas semanas de moda por causa do impacto das mídias digitais na difusão e no interesse das peças apresentadas.
Considerando todas essas informações, inclusive que o automobilismo é a preferência de 41% dos brasileiros, com destaque para a Fórmula 1, segundo dados do Ibope, será que assistiremos ao surgimento de uma geração de meninas apaixonadas por automobilismo e dispostas a incluir tais referências no seu look do dia?
Questiono porque, ainda conforme os dados do Ibope, os homens são maioria do público fã do esporte (72%). Por outro lado, as peças apresentadas em Milão e que estampas revistas de moda voltadas para as mulheres, ganham um ar mais feminino, sexy, prático e estiloso. De todo modo, aposto que a grife conta com a frequente escassez, até que se chegue à extinção, de “coisas para meninos” e “coisas para meninas”, numa expectativa de que com o passar do tempo as moças passem a consumir esse esporte e encontre na Tommy Hilfiger uma referência de estilo neste aspecto. Como já se vê na Adidas, por exemplo, em se tratando de um estilo mais street, esportivo.
Racing stripes, checkerboard prints and attitude aplenty #TOMMYNOW #MFW
Shop the collection here:
🚹 https://t.co/9MmGxjCfXg
🚺 https://t.co/NfZZOMR0ld pic.twitter.com/YEhcGNGhwq— Tommy Hilfiger (@TommyHilfiger) March 4, 2018
De qualquer forma, a estratégia associativa para expandir e atingir novos públicos é uma boa sacada. Parece ter funcionado na música, por exemplo. Anitta conseguiu alcançar projeção internacional ao se unir a diferentes artistas e lançar feats, ainda que com participações limitadas. Depois disso, passamos a ver algumas colabs inusitadas do funk com o sertanejo – funcionou tanto que quase semanalmente era uma parceria diferente sendo lançada, cujas músicas eram facilmente confundíveis umas com as outras. Seria bom se a moda contribuísse para a desconstrução de mais essa convenção que exclui o público feminino de algo tido como preferência masculina. Moda é isso, é comportamento, é impactar e colaborar para que progressos sejam conquistados continuamente.
Quem foi que disse que meninas não gostam de carros, se elas nunca foram estimuladas a vê-los para além de um meio de transporte? Quem foi que disse que meninas não gostam de carros, se elas sempre cresceram vendo os meninos sendo motivados a dirigir, e não elas também?

